É difícil colocar em palavras o que testemunhei, ficam as fotografias deste parto Maravilhoso e o relato da Mamã, Sónia Barbosa da Rocha, Razão D’Ser, https://www.facebook.com/razaodser/.
” O parto para mim como mulher sempre foi algo fisiológico e natural, algo que devia ser vivido preferencialmente no “ninho” e no seio familiar, e algo que sempre ansiei viver na minha vida, como parteira ainda de maior significado se revestia uma possível terceira experiência de parto.
Já sou mãe de dois filhos, nascidos em 2000 e em 2003, ambos de parto vaginal “normal”, ambos os partos classificados por mim como as melhores experiências pessoais da minha vida, apesar de não serem o parto imaginado e desejado. Ambos os partos dos meus filhos foram induzidos medicamente, não por um real motivo clinico mas porque assim sugeriu o profissional médico que me orientava no momento e eu sem conhecimento para mais na altura fielmente aceitei. Foram 2 partos rápidos, o primeiro de +/- 8h e o segundo de +/- 6h, ambos com analgesia epidural (mais por pressão dos profissionais do que por realmente sentir que necessitava da mesma), em ambos permaneci deitada todo o tempo, pari em posição ginecológica (semideitada, pernas abertas posicionadas em perneiras), com puxo dirigido (ou seja puxar por orientação dos profissionais porque se está com dilatação completa), do primeiro tive direito a que me empurrassem o fundo da barriga (manobra de Kristeller – altamente contraindicada) e a uma episiotomia (corte na vagina/períneo – intervenção também contraindicada). Em ambos, houve corte imediato do cordão umbilical (contra indicado) e em ambos apenas tive direito a um contacto imediato com o bebé de somente alguns segundos, pois a prioridade foi serem avaliados, aspirados, pesados, vestidos,…(tudo perfeitamente adiável em bebés que nascem bem, o que foi o caso – apgar 9/10 em ambos) e só depois me foram entregues. Para terminar, após o parto de ambos, o pai teve de sair do hospital podendo apenas voltar no dia seguinte.
Dezassete anos após a minha primeira gravidez, 13 anos após a segunda, e após me convencer que desejava um filho e não somente uma nova experiência de parto, decidimos que era o momento certo para aumentar a família.
A gravidez foi tão deliciosa quanto difícil, muitos momentos felizes, muitos momento difíceis física e emocionalmente (perdas de sangue, dor, suspeita de infeção relacionada com malformações fetais, contrações intensas em pequenos esforços,…). Desafios constantes e esforços adicionais para manter a gravidez o mais saudável possível, que a questão do parto passou até para segundo plano.
Apesar do foco na gravidez não ser o parto, mas sim manter a gravidez, o desejo de um parto natural no meu “ninho” estava bem presente, e quando finalmente as 37s chegaram me permiti desejar o tão sonhado parto. O parto de sonho era apenas que fosse no meu “ninho” e totalmente natural, sendo o local da casa escolhido a sala com a lareira acesa, acompanhada pelo meu marido. Questões como música ambiente, piscina de parto para possível parto na água, foram planeadas mas não eram essenciais. Filme e fotografia do parto, se pudesse ter equipamento em casa tipo “big brother”, ou seja câmaras por todo o lado a filmar de vários ângulos, seria o ideal, não podendo estavam escolhidas as profissionais de imagem ( fotografa Rosa da Magic® – fotografia e a realizadora Natacha – filme). As parteiras como não podia deixar de ser, da parceria Razão d’Ser & Gimnogravida – Isabel Ferreira, Joana Faria, Joana Varela (e ainda Alexandrina Mendes – Médica Obstetra e amiga). Se eu desejava tanta gente no meu parto…NÃO! No meu interior desejava unicamente uma pessoa – o meu marido, ou até mesmo parir sozinha, pois é assim que vejo o parto – um momento íntimo e de conexão entre mãe e filho, algo tão intenso e tão forte que não deixa espaço para mais ninguém, quando muito me permitia partilhar a intensidade e a comunhão desse momento com o meu marido pelo Amor que nos une. A escolha de ter profissionais presentes, seja para assistência ao parto em caso de alguma complicação (parteiras) seja para recolha de imagens (profissionais de imagem) foi uma escolha racional, por questões de segurança e por desejar também ter o registo em imagens de um momento tão especial.
A espera pelo grande dia nao foi fácil, o pai tinha viagem marcada para 2 de Janeiro e o receio de que a Clarisse se demorasse a decidir não permitindo ao pai muito tempo para estar com ela após o nascimento pesava emocionalmente. Por outro lado, a gravidez tinha sido marcada por longos períodos sozinha por motivos profissionais do papá e as duas semanas que antecederam o nascimento da Clarisse foram mesmo muito muito especiais, com muito AMOR, muito namoro e cumplicidade entre os papás.
Nas noites dos dias 15 e 16, talvez influencia da lua cheia…eis que a Clarisse resolve que a barriga da mamã é uma montanha russa…despoletando contrações fortes e intensas umas atrás das outras com tanto movimento…não deixando a mamã sequer estar na cama…mas depois arrepende-se e tudo acalma…falso alarme…
E eis que atingimos as 40s dia 22/12 e apesar dos imensos sinais de que a Clarisse queria nascer, nada de evolução positiva…o tempo continuava a contar e o dia 2/01 a assombrar as nossas mentes…mal nós sabíamos que o plano da Clarisse era mesmo ser a grande protagonista do Natal. A irmã Beatriz tinha sonhado que a Clarisse nasceria no Natal e não é que acertou???
Depois de uma noite de consoada que terminou quase às 3h, mas não muito farta, pois a Clarisse não permitia que comesse muito…às 6h depois de um curto sono acordo com uma contração, uma novidade…pois apesar das imensas contrações na gravidez (sempre associadas a esforço) e nas últimas semanas as sentir também em repouso, nunca nenhuma me tinha feito acordar….e depois da primeira, uma outra logo de seguida….SERÁ??? Decidi levantar-me para ir ao wc e senti que também estava indisposta…digestão inacabada como tantas outras noites na gravidez…e acabo a vomitar o que não consegui digerir da noite consoada…fico melhor e volto para a cama…adormeço mas volto a acordar de tempos a tempos…não olho o relógio, mas sinto que algumas vezes são intervalos de meia hora outros mais curtos…talvez de 15 a 20 min…e mais uma vez me interrogo será mesmo HOJE que ela quer nascer??? Mal podia acreditar que talvez fosse…
Por volta das 11h o papá desperta e eu digo-lhe que sinto algumas contrações desde as 6h…que podia ser que fosse hoje o grande dia!
Decidimos levantar, tomar o pequeno almoço e arrumar a desordem da consoada…preocupações de mente grávida…preparar o NINHO! As contrações apesar de não serem regulares não param…e começo a ter de parar e respirar com calma entre cada tarefa…às vezes são 15 min de intervalo outra vezes menos de 10 min…sinto que já não vai parar….ao papá digo “acho que já não vai parar…”
Tudo arrumado às 12h30…o papá gosta de tomar café às 13h com os avós, pergunto se quer ir e proponho-me a acompanhar…mas aviso que não comente nada das contrações…ele concorda. Após me arranjar e pronta para sair começo a sentir que não vai ser fácil disfarçar as contrações pois já obrigam a desligar durante quase minuto e meio e são com 7/8 minutos de intervalo….mas ainda assim decido ir…
Chegados ao café…estava fechado e nem saímos do carro….cumprimentamos os avós à distancia e voltamos ao “NINHO”…que bem soube não ter que “disfarçar” as contrações!
Após o regresso a casa (13h30), o papá pergunta se não é melhor começar a preparar a banheira…eu concordo e começo também a preparar material de apoio ao parto (cabeça de parteira)…material clínico, toalhas, roupa para vestir depois,… as contrações começam a ter regularidade, 7/8 minutos de intervalo com duração de aproximadamente minuto e meio, obrigando a parar (começa a ficar complicado concretizar tarefas), a respirar e a mover…
Decido enviar a primeira mensagem às parteiras e restante equipe, dizendo que “talvez a Clarisse quisesse nascer hoje…mas que quando evoluísse mais voltava a avisar” isto já seriam quase 15h (acho eu…), mas tão depressa enviei a mensagem como tão depressa evoluiu…contrações de 3 em 3 min bem intensas…obrigam a vocalizar e a mover procurando posições de alívio e bem estar…tento ligar às parteiras e restante equipa para virem…pois sentia que afinal já não ia demorar muito…fica cada vez mais difícil concretizar uma ação…o intervalo entre as contrações não chega e para concluir uma ação começo num dos intervalos e concluo 2 a 3 contrações depois…
Neste momento estou no wc do quarto…sozinha com breves encontros fortuitos com o papá, pois este estava a ultimar os preparativos e não conseguia estar em dois locais….por um lado gostava que ele conseguisse estar connosco, cada vez que o papá se juntava a nós vinha também um abraço e um beijo bem intenso e gostoso (muita ocitocina!) por outro estar sozinha numa dança contínua com a minha bebé também era delicioso!
Cada contração percebia que estava a ficar perto cada vez mais perto de conhecer a princesa…cada vez mais sinto necessidade de aproximar do chão…chego a sentir alguma pressão ainda que ligeira…o papá volta e pergunta se quero ir para a sala ao que eu respondo “vou tentar” e após mais uma ou duas contrações lá decido tentar ir….parando a meio do percurso por causa de nova contração…
Chegando à sala em cada contração procuro o chão com o apoio do sofá, mobilizo a minha bacia como uma dança na contração, a vocalização também ajuda e muito…
Chega a fotografa Rosa e tenta falar comigo…ao que eu respondo “por favor não fales” pois sentia que apenas escutar uma voz mesmo que não tivesse que responder me ativava zonas do cérebro que preferia desligar…o papá põe a TV num canal com sons da natureza e apesar de não conseguir dizer nada sinto que o chilrear dos passarinhos me irrita…mas concentro-me na respiração e na dança com a minha bebé e deixa de ter importância…
Chega a amiga Alexandrina (médica obstetra) cuja presença seria só como amiga…mas como as amigas parteiras ainda não tinham chegado peço que me examine…e confirma o que eu suspeitava…dilatação completa…Clarisse a caminho!
Desço do sofá novamente para colocar os joelhos no chão, perguntam-me se não quero entrar na piscina de parto….ao que eu respondo “já não consigo” logo de seguida sinto uma pressão e sinto que a bolsa de água vai romper…puxo um resguardo para debaixo de mim…e eis que bolsa rompe mesmo!
Na contração seguinte sinto uma força avassaladora que me atravessa e que não consigo controlar…pergunto pelo papá pois não o vejo….respondem que tinha ido à porta (as parteiras estavam a chegar) e eu sinto que não te consigo segurar dentro de mim…e digo “ELA VEM AÍ!” Tão depressa o verbalizo como te sinto descer até à porta…sinto o anel de fogo…arde e sinto que preciso te segurar dentro de mim….mas não consigo…és mais forte que eu e em apenas uma contração te impulsionas para a vida…ficando entre DOIS MUNDOS!
A amiga Alexandrina tenta ajudar, ao que peço “tira a mão” pois preferia saborear o momento…a saída da tua cabecinha tinha sido rápido demais!!! Percorro-te com as minhas mãos e sinto que tens uma circular de cordão no teu pescocinho (na verdade, tinhas 2 circulares não apenas uma), verbalizo alto, e a amiga Alexandrina tenta novamente ajudar…ao que eu peço “não mexas…nasce assim” e amparada apenas pelas minhas mãos saboreio o delicioso momento da saída dos teus ombros e corpinho – 16h57 de 25.12.2016.
Abriste os teus lindos olhos de imediato para mim, tão linda, tão serena!!! O Papá entra e fica surpreso por já te ver!!! Peço-lhe ajuda para tirar o vestido (pois ainda estava com o vestido com que fui ao café) e agarro-te para te trazer de encontro ao meu peito…o teu futuro porto de abrigo!
Não houve direito a filme…fotografias também não muitas…o papá perdeu o momento exato do teu nascimento…mas para nós foi simplesmente PERFEITO!!! Na verdade, eu tinha sonhado na gravidez que paria sozinha de joelhos no chão…em terra e não na água…parece que era mesmo uma premonição de como querias nascer!
E NASCESTE…sem EU estar deitada de pernas abertas…sem ocitocina sintetica…sem rompimento de bolsa de forma artificial…sem te empurrar…sem cortes…sem pontos…sem manobras…sem mãos estranhas em ti…
Respeitamos o teu tempo…saiu a placenta 20 a 30 minutos depois e só depois te separamos dela pois agora tinhas o meu peito quente para te alimentar e aquecer.
Nasceste bem, serena, feliz, mas ativa – apgar 10/10, com 2790gr, 47 cm de comprimento, 33cm de cabecinha, PERFEITA e LINDA!!! Impossível não me render imediatamente apaixonada!
Os momentos após nascimento foram simplesmente indescritíveis, o estarmos no nosso “ninho”, ao nosso ritmo não tem preço….deliciosa a reação dos teus manos…delicioso até mesmo receber visitas pouco depois e mesmo poder jantar em família pois era dia de NATAL!
Bem vinda a este mundo CLARISSE!!! Que sejas tão feliz e protagonista na VIDA como o foste no teu NASCIMENTO!”
O Nascimento da Clarisse
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